As reacções corporativistas de algumas máquinas partidárias ao anúncio da criação do “LIVRE” atestam bem o incómodo que o novo partido imediatamente criou, nomeadamente em certa esquerda (BE e PCP). E demonstram também o grau de conservadorismo imobilista e enquistamento solidificado que tanto tem danificado a qualidade da nossa democracia, como desfasadas se encontram as estruturas partidárias consolidadas do que hoje se entende por participação política activa e como estas assumem o sistema representativo nacional como uma coutada privada, feudal, de acesso exclusivo a detentores de cartão, brasão ou avental, sem que possível seja a admissão de mais sócios ou a atribuição de novos títulos.
Para mais, não entendem – ou pretendem não entender - que as características fundadoras de novos projectos políticos, hoje, pouco tem a ver com as que estiveram na génese dos partidos tradicionais, muitos provenientes de movimentos sociais já organizados (como o movimento operário, por exemplo), ou de projectos de poder bem desenhados por determinadas elites. Bem sei que ainda assistimos por essa Europa fora a concertadas tentativas de tomada do poder por parte de certas oligarquias – no nosso País verificáveis na análise de algumas movimentações intra-partidárias, facilmente detectáveis nos ditos partidos do arco governamental -, e que os últimos 100 anos da história político-partidária mundial (ou pelo menos europeia) trataram de dotar muitos movimentos basistas de estruturas partidárias bem organizadas. Mas daí a entender-se que qualquer sistema partidário, a bem da sua estabilidade, não necessita de novos actores vai um grande passo. E o LIVRE, mesmo que contestando a certa obsessão terminológica de ser qualificado (e de se auto-qualificar) de ‘esquerda’ (uma vez que não só não concordo com tal mundivisão maniqueísta como prefiro o termo ‘progressista’), no meu entendimento, ao pretender estimular o debate político e empoderar cidadãs e cidadãos no seu relacionamento com as instituições democráticas - proporcionando-lhes um espaço transparente de participação organizada – nada mais pretende que desenvolver uma proposta alternativa e institucional que permita ultrapassar a actual inércia (e ineficácia) do nosso sistema partidário, bloqueado que se encontra pelo domínio excessivo das suas elites partidárias e pela falta de abertura real à sociedade civil, organizada ou não.
E desta forma, não só pelo seu contributo para uma maior capacitação generalizada da sociedade mas por se apresentar como um partido com clara matriz europeia e ambições de finalmente introduzir em Portugal um discurso ecologista politicamente independente, o LIVRE tem de ser entendido como uma lufada de ar fresco, necessária para ajudar a libertar algum do mofo e bafio que se sente no sistema partidário nacional, como uma expressão consciente e pro-activa que nos auxilia a recordar que a liberdade, depois de conquistada, tem de ser vivida. Sem donos ou tabus, por muito que isto custe a certas máquinas partidárias.
(publicado a 26 Novembro 2013)
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