O comportamento do PSD e do CDS no Parlamento tem demonstrado que um elevado grau de conservadorismo ultramontano capturou as suas lideranças partidárias, deixando descobertos os indeléveis traços, negros, das bafientas máscaras salazaristas que lhes cobrem as faces, bem como o medo e desdém por pessoas concretas e pelas sociedades contemporâneas, tal como elas são de facto constituídas. E a vontade de procurarem impor uma moral e bons costumes, consagradas no triunvirato Deus-Pátria-Família, a que nem eles obedecem, é o cúmulo da hipocrisia política e a demonstração do carácter pidesco que qualifica toda esta operação. E nem vale a pena pedirem desculpas, pois ao votarem contra a consagração legal de famílias já existentes, intervieram decididamente na vida de muitos portugueses, maiores e/ou menores, invadindo não as suas carteiras - como de costume - mas a sua intimidade, através da imposição de códigos de conduta moral a pessoas que, alheias aos preconceitos e à intolerância desta gente, têm vivido tranquila e pacificamente.
E torna-se bizarro entender que esta atitude é originária e produto dos líderes (não dos mentores) da dita “nova direita”, transmutada em liberal e repleta de títulos de modernidade. Por onde andam então esses princípios doutrinários (onde assumimos se encontrem também os da igualdade e dos direitos humanos), o respeito pelo historial liberal e mesmo “social-democrata” da direita portuguesa (mesmo a pré 25 de Abril), ou os ideais de algumas das suas referências (como Sá Carneiro, Lucas Pires ou mesmo Adelino Amaro da Costa)? Quando foram essas referências substituídas pelas do senhor de Santa Comba Dão, arauto do obscurantismo cultural e do desejo de ensinar o País a comportar-se? Pode alguém informar esses senhores, por favor, que já há um bom par de séculos que grande parte da Europa se revoltou contra imposições e dogmas de cariz moral e religioso, e contra ditaduras e absolutismos? Que por terras americanas se procura há várias gerações aperfeiçoar um sistema político (liberal) que consagre a todas e todos “o Direito à Felicidade” (como definida por cada qual)? E que o Estado, secularizado, só deve advogar e defender a moralidade consagrada nos Direitos Universais da Humanidade?
Para mais, tal “modernidade” política já encontrou em Portugal outorgante de similares preceitos morais, adormecendo-nos por 48 anos ao som de uma incapacitante mantra moral, diariamente violando, silenciosamente, os nossos mais fundamentais direitos humanos. Mas soubemos, vai agora para 40 anos, acordar, em pleno gritar contra esse violador, e nos revoltar contra os poucos usurpadores que detinham (e se deleitavam com) os nossos direitos. Desenhámos depois um novo rumo social, alicerçado numa agenda para a igualdade coerente, moderna, afectiva e efectiva, especialmente entre 2005 e 2011. E não será este par de mentes unicamente preocupadas com o estado numérico do País, sem desejo de entenderem o seu estado real, e emocional, que destruirão o rumo colorido construído, pois jamais regressaremos ao pobre País mascarado a preto e branco que sonham em nos colocar. Nem que para isso tenhamos de voltar a acordar (os liberais traídos).
(publicado no Diário Económico de 18 de Março de 2014)
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