A recente reunião “das esquerdas” convocada por Mário Soares, e a sua inconsequência imediata, reforçaram a ideia de que não se tem conseguido transportar a vitalidade da contestação cívica consciente e informada para patamares institucionais organizados e consequentes. Verificámos ainda que, por mais reuniões “das esquerdas”, por mais protestos e manifs, por mais descontentamento social, a verdade é que o produto de tamanha contestação – em termos de propostas institucionalmente transformadoras – tem sido practicamente nulo. E, pior, a frequência elevada de tais reuniões, de tais manifs e protestos, sem propostas políticas consequentes, tem esvaziado a capacidade dos movimentos emanados da sociedade civil em se apresentarem como vanguardas sociais capacitadas para liderar a desejada transformação dos sistemas político-institucionais, vis-a-vis a edificação de uma democracia plena, activa e autêntica.
Desta forma, com algumas exepções (como a Academia Cidadã ou a Auditoria Cidadã à Dívida), tem-se perdido a oportunidade de se introduzirem novos vectores, novos canais de ligação entre os sectores pro-activos da sociedade e o sistema político-partidário, demonstrando que falha a transposição da energia cívica acumulada no descontentamento popular para o sistema político-institucional. E assim, invés de assistirmos à libertação das instituições do garrote da hegemonia partidária, verificamos antes que a natureza conservadora do sistema partidário impede que qualquer intromissão seja admitida no controlo– e acesso - das principais instituições formais do sistema político; o que demonstra uma evidente inaptidão em se entender as características das sociedades politicamente informadas do século XXI e desmonta qualquer leitura que identifique nos partidos a capacidade de introduzir no sistema os elementos necessários à instauração de novas fórmulas de participação democrática vinculativa.
O problema é que também a maioria dos movimentos sociais se desligaram desta contribuição, dominados que estão - intencionalmente ou não - por diversos processo de sabotagem estratégica. Refiro-me às ingerências partidárias em determinados movimentos, às “fogueiras de vaidades” que dominam tantas reuniões magnas e especialmente à incapacidade de se produzirem sínteses sobre o lugar dos movimentos sociais no imaginário público de intervenção cívico-política, essencial para a validação da intervenção cívica desligada do personalismo vedetista e da partidarite. Neste ponto, devem os movimentos sociais ou evoluir para dinâmicas de intervenção substantiva – como está a fazer a Academia Cidadã ou a Auditoria à Divida – ou entenderem o valor da sua intervenção como condicionada no tempo e no espaço e que, como “Fallas Valencianas”, se extinguem publicamente depois de esgotada a razão da intervenção política. Mas como infelizmente falta à democracia portuguesa o altruísmo individual e colectivo para entender o valor do contributo desprendido, não antevejo que se multipliquem ‘Fallas’ que libertem a energia cívica que se tem acumulado em Portugal, e a coloquem ao dispor da cidadania autêntica.
(publicado a 4 de Junho 2013)
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