Tinha a intenção, este fim de semana, de ir a Belgrado. Tudo já estava planeado, até que um pormenor falhou: não consegui alugar carro para me deslocar à Servia. Aparentemente, não se alugam carros que ultrapassem o espaço europeu, por medo do que os bárbaros que habitam fora da pacifica e civilizada União possam fazer à propriedade automobilística das grandes multinacionais do ramo.
Senti, pela primeira vez, o que é ser cidadão-europeu e ter direitos diferenciados dos meus outros compatriotas europeus. Senti-me mal, naturalmente. Com tantos exemplos de barbaridade no espaço interno da União, e com tantos outros de civilidade na 'barbárie', porque teremos nós, 'cidadãos-europeus' de sermos colocados em pedestais morais quando frequentemente damos o exemplo do inverso?
Parece que há medo do que os sérvios - esses bárbaros - possam fazer ao nosso carro; mas se quiser alugar a mesma viatura e a estacionar num dos subúrbios dessa civilizada frança sarkosiana, já pouco receio existe. Eu já tive a oportunidade de estar na Sérvia, e também em França, e deixem-me vos dizer que poucas diferenças - culturais - encontrei entre os países. Admito que inicialmente julgava que aos sérvios ainda lhes faltasse alguma cultura pós-moderna e sentido de modernidade (a vários níveis), mas depois de os ter conhecido melhor encontrei-os totalmente enquadrados na realidade política e cultural europeia. Neste sentido, só posso apreciar a desconfiança que merecem pelas leituras produzidas sobre o que se passou na época de Milosevic. Ora a Servia hoje é um país bem diferente. Em todos os aspectos. Soube se afastar desse passado recente e construir uma democracia estabilizada que faz o país progredir. E não só já passou quase uma década em relação à Guerra como grande parte dos seus responsáveis encontram-se detidos e julgados por tribunais internacionais. Neste sentido, é um país a seguir o exemplo; e basta pensar que Portugal, por exemplo, nunca sofreu das mesmas desconfianças por parte da comunidade internacional quando abandonou um regime autoritário de características fascistas que promoveu uma bárbara guerra colonial.
Entendo que nas Relações Internacionais a hipocrisia seja frequentemente utilizada para disfarçar interesses estratégicos dos grandes actores do sistema. O que não entendo é como esta nossa Europa ainda não conseguiu sair do preconceito que tem em relação a alguns dos seus vizinhos próximos, a começar pelo sérvios, esses nossos irmãos europeus.
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