A época estival que agora finda foi marcada, politicamente, pelo agudizar das relações entre os dois maiores partidos portugueses que, em sucessivas declarações públicas, procuraram condicionar e marcar o ritmo da rentrée política, simulando uma situação de conflito eminente.
O OE é apresentado como a causa próxima da refrega; mas verdadeiramente o que está em causa é a liderança da agenda política para os próximos - e decisivos - meses.
Neste jogo entre Passos Coelho e Sócrates ambos os protagonistas apostam que o outro recuará nas suas exigências, cedendo desta forma o desejado ‘high ground' político. Se ambos não abdicarem das suas posições isso significará que o OE será rejeitado - e o pais gerido por duodécimos -; e que, até o próximo verão, os mecanismos para clarificar a actual situação política passariam a passar somente pelo Parlamento, onde poderia o governo apresentar uma moção de confiança ou o PSD uma moção de censura, impossibilitada que está a opção de eleições antecipada.
Os cenários pós-rejeição do OE são interessantes para politólogos e ‘opinion makers', que se entretêm a explorar as possibilidades do sistema politico-constitucional português. Transformariam a dinâmica das eleições presidências, obrigando os candidatos a se pronunciarem sobre o comportamento dos Partidos Políticos e o Presidente - também candidato - a ter se sair do seu refugio institucional e a intervir activamente na vida politica; mas teriam consequências nefastas para o pais, sujeito que está ao escrutínio atento da comunidade financeira internacional.
Ora a verdade é que - no que respeita às questões orçamentais - o Governo tem cumprido com as suas obrigações: acedeu aos desejos de Bruxelas para implementar dois PEC (ambos com o apoio expresso do PSD), e agora prepara-se para apresentar o OE em conformidade com o plano estabelecido com a Comissão Europeia. Neste sentido, a não ser que Sócrates queira denunciar o ‘bluff' de Passos Coelho, não tem o PS a necessidade de apresentar uma moção de confiança. Já o PSD, que - repetimos - aceitou os PEC e comprometeu-se a dar a necessária estabilidade ao Governo até 2011 -, tem agora de rejeitar o OE caso o PS não ceda às suas exigências; e, de seguida, se quiser ser consequente, deve apresentar uma moção de confiança ao Governo, apresentando-se a Cavaco como alternativa governamental. É bem evidente que Passos Coelho está a tudo disposto para ser primeiro-ministro, mas terá para isso que jogar arbitrariamente com o futuro do pais?
Todos nos recordamos que a solução para a crise dos mísseis de Cuba passou pela instalação - em Washington e em Moscovo - de um telefone vermelho para que os lideres do mundo pudessem resolver directamente futuras situações de conflito. Sócrates e Passos conhecem-se e tem o contacto um do outro. Não poderão telefonar-se e resolverem a intricada situação em que nos encontramos? Para bem do pais?
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