“Longa se torna a espera” e “à terceira é de vez” são expressões jocosamente utilizadas para entender a persistência (e teimosia política) de dois dos mais carismáticos presidentes franceses: François Mitterrand e Jacques Chirac; pois quer o socialista como o antigo ‘maîre de Paris’ concorreram e perderam dois actos eleitorais (Mitterrand em 1965 e 1974 e Chirac em 1981 e 1988) antes de escolherem a mobília da suite presidencial do Palácio do Eliseu, esperando respectivamente 16 e 14 anos para concretizar almejado sonho. Esperar, e saber gerir uma carreira política de longo prazo, tornou-se qualidade decisiva por terras gaulesas, até Sarkozy ter perdido a reeleição de 2012.
Serve esta curta introdução para contextualizar os recentes eventos do panorama político-partidário português, entretido esta semana com um debate estéril e quasi-esotérico sobre a noção da "pressa". É que parece que para alguns ex-dirigentes socialistas, de repente, tudo se tornou urgente: um novo congresso partidário, um novo ocupante para o Palácio Marquês da Praia, cito Largo do Rato, e finalmente um novo titular para a chefia do governo.
Verdade que tendo em conta o imediatismo informativo, o impacto diário, 24/7, dos eventos políticos e o encurtamento dos ciclos político-eleitorais, o supra citado calvário francês tem cada vez menos aderência ao quotidiano corrosivo das democracias contemporâneas, onde as esperas são cada vez mais curtas. Também é verdade que para o bem estar colectivo dos residentes em território português seria conveniente que este governo (e esta ‘troika') abandonasse rapidamente o palacete de São Bento. O problema, a meu ver, prende-se com a forma de forçar este abandono, como aliás escrevia em artigo anterior, e com a estratégia desenhada pelas altas esferas socialistas - quer as pertencentes a esta direcção como outras - em se apresentarem como alternativa de poder.
Assim, se parte da estratégia de quem agora se esgana por forçar um congresso no PS (aliás já previsto), passa por colocar António Costa na liderança, o resultado não podia ser mais contraproducente, pois esta excessiva aceleração do momento político apenas coloca o edil lisboeta num beco sem saída: se houver congresso antes das autárquicas ou vai a votos e corre sério risco de perder as eleições em Lisboa para Fernando Seara (que, aliás, já denunciou a situação), ou então desiste da (última?) oportunidade de ser líder do PS, deixando caminho aberto para Seguro se apresentar a eleições contra Passos Coelho. Ironicamente, estes gritos mudos beneficiam sempre o actual líder do PS, que tem não só a oportunidade de liquidar partidariamente António Costa, como ainda de beneficiar de um bem sucedido congresso electivo, na antecâmera de esperada estrondosa vitória eleitoral (momento potencialmente catalisador para Cavaco Silva, sentindo o pulsar do País, demitir o Governo e marcar eleições antecipadas).
A não ser que a estratégia seja outra, e passe por afastar Costa definitivamente do Largo do Rato, colocando-o mais perto de Belém, ou como candidato socialista para 2016 ou como putativo primeiro-ministro de um governo de iniciativa presidencial. Em todo o caso, quer sejamos gauleses ou lusos, saber esperar, não ter pressa, e saber quando actuar, sempre foi uma qualidade admirada em todo o bom político.
José Reis Santos, Historiador
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