Faz hoje 56 anos que na capital Magiar o povo húngaro se levantou violentamente contra um regime autoritário e em uníssono lutou pela sua emancipação. Em causa, o derrube de um sistema totalitário que, castrando as liberdades individuais (e colectivas) dos seus cidadãos, sobrevivia apenas sustentado por uma muito selecionada elite artificialmente ancorada numa ideologia desprovida de apoio social e agrilhoada a ordens importadas de uma estrutura sobre-nacional, com sede em país estrangeiro e distante (não me refiro à Comissão-Barroso, que de Bruxelas – a mando de Berlin - acorrenta hoje a Europa a um conjunto de políticas desprovidas de sustento social e totalitárias quando intervêm directamente na vida dos nossos concidadãos, castrando-lhes as suas liberdades essenciais).
Trinta e poucos anos depois, este regime – e seus irmãos - implodiu. Saiu de cena. Novos bardos da liberdade subiram ao palco, agora apoiados por quem dormia do outro lado da cortina. Clamaram pelo fim da História, pelo advento de um ‘Novo Homem’: o Homos democraticum (e liberalis). Aproveitando a benesse, um bem preparado conjunto de Über-Homos (aqueles seres meta-políticos que se movimentam apenas e exclusivamente entre ‘lounges’ de hotéis e restaurantes não cartografados em guias turísticos) decidiu avançar para o domínio total da Nova Era anunciada. Para tal bem municiados, estes senhores da Alta Banca e Finança Internacional, muitos também políticos activos nos bastidores dos tais clubes de cavalheiros (sim, que é apenas de homens que falamos), consolidaram uma linha estratégica já definida, financiando think tanks, Universidades e projectos políticos alinhados com a idea-mãe, pagã, do neo-liberalismo: o Mercado é Deus. O Lucro, Cristo.
Sob estes pressupostos, majestosamente custeados, edificaram-se as novas bases da actual fase do sistema capitalista. Construíram-se projectos de Media e Comunicação (para passar a Verdade), selecionaram-se nas universidades, nos partidos e nas redações a nova elite, educando-se os ‘jovens’ e reeducando-se os ‘velhos’ (curando os que 20 anos antes tinham tido apanhados pelo ‘vírus da esquerda’). Depois, com a máquina montada e as peças no lugar, pouco tardou para se apropriarem da hegemonia discursiva e cultural, primeiro, e depois dos palcos institucionais espalhados pelo panorama político europeu e mundial.
E o plano até corria bem, até que em 2008 os mecanismos acionados para se responder à crise financeira, expuseram a nu a natureza desumana de quem conseguiu transformar uma crise financeira num holocausto social; esfumando-se assim como asas de Ícaro (queimadas pelo desdém por quem sofre todos os dias) a hegemonia construída nas últimas décadas (cujo zénite tinha sido a colocação de Barroso nos comandos do barco da União). E se os gritos de 56 demoraram 30 anos a se transformarem em liberdade, não creio que tanto demore para que as vozes dos milhões de cidadãos que diariamente acorrentam a mais austeridade seja transformada num grito definitivo e transformador. O fim desta História já chegou. Estamos só à espera de Mulheres e de novos Homens.
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