Dizem-nos os livros de Ciência Política que regimes democráticos são aqueles em que a população qualificada elege líderes e representantes para que, com base num programa político exposto e debatido, governem em máxima consideração contratual com o interesse do Povo. Não o fazerem, ou deturparem as premissas desta primeira directiva, significa quebrarem o contrato com os seus governados e caminhar para a ilegalização social e para a ilegitimidade ética e moral.
Na sexta-feira, o primeiro-ministro rasgou definitivamente o contrato que tinha estabelecido com os portugueses, confirmando que os alarmantes sinais de autismo político e social que tinha vindo a demonstrar são afinal genéticos e que governa apenas para gáudio de Bruxelas e Washington, escondendo-se nas saias dos mercados internacionais, do FMI e da Comissão Europeia. Para mais, as contas da opinião pública e publicada são claras: estas medidas pouco beneficiarão o Estado, colhendo delas dividendos apenas um punhado de PME e essencialmente as grandes empresas. O impacto no défice não será significativo, não se criará emprego, nem se estimulará o mercado interno. Apenas se confirmará o exturco de 40% da qualidade de vida a um povo já debilitado (em apenas um ano). Nunca um governo democraticamente eleito tinha mostrado tamanho desrespeito e desprezo pelo povo português e se aproximado tanto da tirania social.
É evidente que estamos perante uma conjuntura de emergência nacional a necessitar urgente ingerência da parte dos actores com capacidade de intervir no sistema político português: a Presidência da República, o próprio governo ou a oposição política e social. O Presidente vetando qualquer OE que vincule as medidas anunciadas (ou demitindo o Governo por quebra de legitimidade social); o CDS (ou alguns barões do PSD) quebrando a solidariedade governativa por inteirar-se da falta de sentido da liderança de São Bento; e os partidos da oposição organizando-se conjuntamente com a sociedade civil e pressionando o governo para que se demita ou revogue estas propostas.
Julgo ser o último cenário o único provável, pois não conto que Cavaco, o CDS ou o PSD intervenham. E como não creio que outro partido que não o PS possa liderar uma alternativa governamental, a responsabilidade da mudança encontra-se nos socialistas e na sociedade civil. Ora esta tem de continuar a organizar-se fora do espectro partidário e a manifestar-se livremente. Quanto ao PS, espero que entenda estar perante a oportunidade histórica de poder liderar uma ampla coligação progressista (uma Frente Republicana e Socialista, por exemplo), especialmente se abandonar a sua política de abstenção, se se envolver na oposição ao governo (indo para a rua, apoiando manifs) e se, com capacidade auto-crítica e humildade, convide outros parceiros para a construção de uma alternativa politicamente alargada e socialmente significativa.
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