Portugal encontra-se numa situação financeira e política caótica. Julga-se que a solução para os problemas do País passam pelo auxilio externo, e para o efeito, solicita-se um avolumado empréstimo à comunidade internacional.
Primeiro nas principais praças financeiras - que rejeitam o resgate -, depois junto das organizações internacionais; que acedem, mas impondo condições: equilibro orçamental, implementação de um conjunto de medidas de austeridade e a permissão da presença de equipas de peritos internacionais no país para verificação da implementação de tais medidas. A reputação internacional de "lixo" é a razão para tais elevadas exigências. E revelador de tal má fama é o cunho em França do verbo "Portugaliser", que significa imprevisibilidade total, caos generalizado, virar tudo do avesso.
O governo português rejeita tais exigências, advogando que o comprimento das mesmas implicaria uma inaceitável perda de soberania. Demite-se o ministro das Finanças, Sinel de Cordes, e é novamente convidado para a pasta um notório professor de Finanças da Universidade de Coimbra, paladino de uma revolução moral do carácter do povo português: António de Oliveira Salazar. Estamos em 1928, e não como o leitor poderia julgar, em 2011 ou 2012.
Apesar da tentadora transposição para a actualidade de eventos passados, do divertimento académico da História contra-factual, a realidade é que História não se repete. Ou repetir-se-á? É que a julgar pela dispersão de discursos populistas, adventistas e nacionalistas que pululam o espaço político europeu (especialmente a Leste), poderíamos julgar estar perante um filme já visto. E se nada for feito para combater os salvadores da Pátria que inevitavelmente promovem - como o nosso Salazar - propostas socialmente retrógradas, moralmente conservadoras e civicamente discriminatórias, caminhamos a passos largos para uma infeliz "salazarização" europeia. Suprema ironia, quando o nosso pequeno ditador sempre foi homem de pequenos horizontes.
Em todo o caso questiono-me se Portugal se mantêm imune a tais fenómenos e se, mais de oito décadas depois, conservamos as características da ingovernabilidade que forjaram tal verbo francês e que ciclicamente nos empurram para novos Sebastiões, coimbrões ou não.
Julgo que as características do nosso sistema político democrático têm conseguido amenizar o advento de projectos ultranacionalistas alternativos, ao mesmo tempo que temos sabido concentrar a proclamação de novos Sebastiões nas bancadas dos relvados, e não nas tribunas da política, chamando-lhes hoje Ronaldos como ontem lhes chamávamos Eusébios. Mas infelizmente não consigo deixar de me recordar das célebres palavras de Almada Negreiros, esperando infinitamente pela consagração pública das nossas qualidades colectiva (que temos).
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