Um dos privilégios de trabalhar em História Contemporânea é sermos confrontados com dilemas do presente e, consequentemente, ter a oportunidade de mergulhar nos debates políticos, filosóficos e intelectuais decorrentes.
Em concreto interessam-me as reflexões sistémicas. Isto porque somos confrontados com a incapacidade dos sistema políticos gerirem o Bem Comum, promoverem uma sociedade mais equitativa e justa e acabarem com o abuso do Estado em prol de alguns poucos, obscuramente selecionados. Estes são os dilemas do nosso tempo, como o eram há mais de 100 anos. Com a agravante de se terem agudizado no quadro da crise vigente e de serem hoje evidentes para o cidadão comum (bem) informado.
Pior, num momento em que se esperava maturação democrática e um consenso social alargado em torno de um futuro colectivo partilhado - face à crise - temos assistido à total incapacidade da nossa elite política em "dar conta do recado", interessada apenas em salvaguardar os (seus) privilégios adquiridos. Tal constatação, partilhada entre os partidos no arco governativo, recorda-me um comentário de Antero de Quental quando, insurgindo-se contra o rotativismo parlamentar estéril do século XIX, referia que "os partidos perdem a noção da realidade e, enquanto o mundo está em constante transformação, eles repetem maquinalmente as teses habituais de uma filosofia caduca, que nem sequer entendem". Hoje questiono-me se, perante as transformações do nosso tempo, não estarão os nossos políticos a repetiram fórmulas gastas, obsoletas, e - mais grave - a insistirem na demonstração da falência do actual sistema democrático-parlamentar.
Este último ponto apresenta, a meu ver, uma gravidade absoluta, pois decorre da sua interpretação a apresentação de alternativas populistas autoritárias que, no decurso da História, possibilitaram o advento dos fascismos, comunismos e outros totalitarismos e, validaram recentemente, por exemplo, o golpe de Estado Constitucional húngaro.
Não pretendo com isto afirmar que Portugal esteja perante tal grave situação (como no passado), mas apenas alertar que a constante falta de qualidade da nossa classe político-partidária pode originar a falência do sistema como o conhecemos. Não podemos continuar a aceitar a imortalização das teses habituais de uma filosofia caduca e mal-entendida, apresentadas por actores clonados dos nossos piores exemplos. É imperativo que surjam novas alternativas, protagonistas e propostas. É necessária mais acção, dentro do quadro democrático-institucional vigente, mais associativismo, mais sindicalismo, mais indignação, mais alternativa partidária consistente. É que, em boa verdade, não é necessário refundar ou romper com o sistema. Até porque o mesmo pode ser (bem) gerido se soubermos promover e apoiar uma elite política capaz e altruísta. O que até ao momento não tem sido possível.
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