Após a clamorosa derrota eleitoral de 5 de Junho o Partido Socialista apresta-se a escolher o sucessor de José Sócrates.
E, como em todas as eleições internas após ciclos de poder, esta será uma oportunidade para os socialistas reflectirem sobre as propostas políticas, apreciarem criticamente a sua postura governamental (e processos de recrutamento político) e repensarem o seu posicionamento perante a sociedade portuguesa e as novas dinâmicas políticas contemporâneas, hoje bem mais complexas que em 2005 - ou 1995, ano da nomeação de António Guterres para PM.
Neste sentido, e contrariamente ao ocorrido na transição de Guterres para Sócrates (retiro da análise os anos de Ferro Rodrigues), julgo premente que o Partido Socialista dedique tempo a edificar e consolidar uma nova elite partidária e a participar, activamente, na construção de novos processos ideológico-programáticos de alcance europeu. Dimensões nunca trabalhadas no consulado de José Sócrates, antes pelo contrário.
Apreciando a liderança de José Sócrates, rapidamente concluímos que o ex-secretário-geral do PS se limitou a gerir muito do legado de António Guterres: a maioria da sua elite partidária transitou do Guterrismo, onde se governamentalizara (foram apenas promovidos alguns novos actores, a maioria de má qualidade); e do ponto de vista programático manteve-se a linha da "terceira via", também apropriada pelo Guterrismo, acrescentando-se-lhe uma nova dinâmica progressista nas áreas sociais, distanciando-se do conservadorismo católico de Guterres.
Mais significativo foi o afastamento do PS do debate e discurso europeu promovido pela família socialista europeia. Tal foi evidente no apoio a Durão Barroso nas eleições de 2009 e na falta de presença significativa no seio do Partido Socialista Europeu: perdendo-se uma excelente oportunidade de, juntamente com o PSOE, introduzir o conceito de "Socialismo progressista Ibérico". A natural evolução desta linha foi a construção de um discurso nacionalista bacoco e retrógrado (consagrado no último ‘slogan' eleitoral), afastado da melhor tradição socialista europeia e das actuais características políticas contemporâneas.
Este legado significa, pois, que, apesar de nos ter deixado claras marcas de governação progressista, faltou a José Sócrates uma visão progressista do PS. Foi demasiado século XX, quando já deveria ter sido século XXI.
Sob esta análise, o novo PS, necessita de entender que o ciclo Guterres-Sócrates acabou. Tem de acabar. É necessário apostar numa nova elite partidária e inserir-se activa e prospectivamente nos grandes debates programático-ideológicos actuais, repito. E voltar à rua e junto das pessoas.
A julgar pelo discurso de ambos os candidatos, estas dimensões estão a ser consideradas. Mas para que tal seja efectivo será necessário tempo. E não ter pressa para regressar ao poder.
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