No último conclave do PS, realizado sob o signo da unidade e da aclamação ao líder, os discursos de José Sócrates definiram o tom socialista da pré-campanha em curso: ataque às alternativas desenhadas pela oposição e defesa da agenda do governo.
Foi naturalmente um congresso aclamador e unitarista, encenado para o lançamento da pré-campanha, e com o propósito de colocar os socialistas na ‘pole position' da mesma. Aliás, não se esperaria diferente. Hoje, infelizmente, a maioria dos congressos partidários, em especial de Partidos no Governo, têm estas características e, por muito saudosistas que sejamos de congressos ‘à antiga', a verdade é que as modernas técnicas da comunicação política obrigam a que estas reuniões extravasem o debate intra-partidário e comuniquem com todo o eleitorado.
Duas ideias sintetizam o tom apresentado pelo secretário-geral do PS: a da responsabilização da crise, que na visão socialista cabe aos partidos da oposição (fruto da rejeição do PEC 4 na Assembleia da República) e a do contraponto entre a governação socialista e uma aventura liderada pelo PSD, dimensão que engloba a avaliação do carácter dos dois líderes e das propostas conhecidas dos dois partidos.
Aparte as leituras sobre a responsabilidade de quem terá tido mais ou menos culpas na actual situação política nacional (até porque sinceramente delas ninguém poderá verdadeiramente esquivar-se), Sócrates procurou identificar o que poderá ser um debate interessante nestas eleições: que funções, hoje, deve ter o Estado neste cenário de crise económica e financeira mundial? E para o realçar individualizou as áreas da Saúde e da Educação, bem como a proposta de Passos Coelho para a privatização da Caixa Geral de Depósitos.
Este é um debate entre uma visão liberal e minimalista da sociedade, defendida por Passos Coelho, que pretende um Estado reduzido e com funções quase restritas às áreas da segurança e da representação externa (até porque as áreas económicas e financeiras estão cada vez mais em Bruxelas); e uma socialista moderna que entende que o Estado deve estar presente em mais áreas (nomeadamente nas sociais) e garantir, por exemplo, o acesso livre aos serviços de saúde e educação. E apesar de ser expectável que o PSD procure justificar esta visão minimal com o actual estado da economia portuguesa, na realidade estamos perante duas visões ideológicas bem distintas da sociedade.
Ou seja, mesmo com uma campanha condicionada com a aprovação prévia de um conjunto de medidas impostas pelo recente pedido de auxílio estrangeiro e com um ambiente de alta crispação entre os principais actores políticos, poderemos ter a oportunidade de promover este debate, há muito adiado. E até colocar alguma ideologia no subtexto das próximas eleições, o que as tornaria bem mais interessantes.
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