A dimensão que mais me interessa explorar das manifestações deste fim de semana é a que envolve a avaliação das características da sociedade civil portuguesa organizada pela primeira vez fora da esfera partidária e dentro da nova matriz das redes sociais, num movimento que, aproveitando o ‘buzz’ dos acontecimentos no mundo árabe, demonstrou que o ‘povo’ está activo e interventivo também no espaço europeu (como, aliás, os recentes eventos na Islândia já o tinham comprovado). Interessa-me esta dimensão porque partilho da ideia de que as sociedades contemporâneas europeias, cujos sistemas políticos foram organizados de forma a permitir a participação política activa quase exclusivamente através dos partidos políticos, atravessam uma fase de decadência evidente.
Neste sentido urge repensar as fórmulas de participação activa dos cidadãos na vida das nossas Polis (o que em alguns casos está a ser promovido, como no exemplo do Orçamento Participativo na Cidade de Lisboa), uma vez que estes não só não se sentem totalmente representados pela classe política que elegem para os órgãos de poder, como também não se resignam a serem chamados à intervenção apenas de 4 em 4 anos, através do depósito de um voto na urna.
Assim, e uma vez que não se espera que sejam os Partidos políticos os promotores desta importante reflexão (não só porque o sistema de partidos nacional está amorfo - da esquerda à direita -, como lhes convém que o sistema se mantenha como está), resta à sociedade civil saber organizar-se, intervir e proporcionar novos ‘inputs’ ao sistema. Deve então esta sociedade civil procurar influenciar os partidos, exigir mais dos seus eleitos, contribuir activamente para o debate público e, em última análise, plantar as sementes de uma comunidade mais activa, participativa e progressista. Uma sociedade sem medo da crítica ou do pensamento alternativo, promotora do mérito e da oportunidade e contra o modelo feudal, patriarca e caciquista do sistema, que promove com demasiada facilidade o amigo, o familiar, o afilhado, o camarada.
Dito isto, que resultados devemos esperar dos acontecimentos deste fim-de-semana? Não me parece que os Partidos tenham verdadeiramente entendido as características deste protesto (até porque reagiram ao mesmo com uma atitude demasiado paternalista), ou que os principais actores do sistema tenham entendido que algo mais urge fazer, nem que seja para que tudo se mantenha na mesma. Mas já espero que os milhares e milhares de portugueses que confirmaram que temos uma sociedade activa e bem informada politicamente não se deixem adormecer e mantenham forte o seu envolvimento cívico e social. Somente assim a alegria e a energia colectiva que se gerou neste fim-de-semana, e que nos transportou do 25 de Abril (ou 1º de Maio) à magrebina Praça Tahrir, poderá ser utilizada para a renovação qualitativa da nossa democracia, para a tão desejada regeneração do nosso sistema de partidos e para a elevação da nossa cultura política.
. Um acto de primeiríssima ...
. Madiba e as vacas sagrada...
. A importância de um candi...